Jovens evangélicos adeptos da 'corte' optam por abdicar do contato
físico.
Psicóloga argumenta que sociedade deturpou o sexo e a
sensualidade.
Eles não beijam na boca durante o namoro e defendem o sexo
somente após o casamento. O objetivo: conhecer o verdadeiro amor. Este é o
estilo de relacionamento que muitos jovens evangélicos têm adotado como
princípio para uma vida “emocionalmente saudável”. É o que o universitário
Rafael Almeida, de 22 anos, e Heloísa Lugato, de 24 anos, formada em direito,
garantem estar vivenciando há mais de um ano.
O casal conta que os dois são
adeptos da pureza sexual até o casamento e durante este período de
relacionamento não tiveram relação sexual. “Preferi me preservar. Nos abdicamos
do contato físico, do toque, para focar nosso relacionamento na amizade e em
conhecer um ao outro”, comenta Rafael. Ele destaca também que a escolha ajuda
ainda em ter uma vida emocional equilibrada.
Para Heloísa, a união do casal
está respaldada na santidade e em princípios que estão descritos na bíblia. Ela
argumenta que o contato físico pode contribuir para que o namoro saia do foco e,
por conta disso, o máximo que fazem é pegar na mão e abraçar.
“Sabemos que o
beijo não é pecado, até porque a bíblia não se refere a isso. Porém, o sexo é,
por isso evitamos. Mas não se trata de uma regra. Somos livres para optar e
escolher”, pontua.
A jovem disse que já teve outros relacionamentos fora da
igreja e que as experiências só reforçam o estilo adotado no namoro atual.
“Somos guardados do prejuízo que é ter um coração machucado e
ferido”.
Corte
O casal já marcou a data do casamento para o mês
de março de 2013. E para chegar até lá, Rafael e Heloísa contam que o namoro dos
moldes atuais foi trocado para a modalidade “corte”, no sentido de resgatar
valores que se perderam.
Mas para Rafael, isso não é uma tarefa fácil. Ele
ressalta que o preconceito da sociedade é grande e que a castidade ainda é um
assunto polêmico. Cursando engenharia civil, o universitário disse que já foi
até chamado de louco por colegas. “A postura vai contra as regras ditadas pela
sociedade. É difícil para muitos aceitarem que alguém em pleno século 21 pense
assim. No entanto, quando se tem convicção, seguimos em frente”,
avalia.
Veredas antigas
O pastor Heitor Henrique Laranjo, de 27
anos, explica que a área sentimental é a que mais aflige o solteiro. Responsável
por trabalhos desenvolvidos com jovens e adolescentes na Igreja Videira, em
Cuiabá, o pastor avalia que muitos jovens estão tendo diversos relacionamentos e
que chegam a um ponto de frustração emocional muito cedo.
Ou então, segundo
Heitor, chegam ao casamento e não conseguem sustentá-lo por falta de
amadurecimento. Além disso, percebem que se casaram com a pessoa errada. “Por
isso a corte é diferente do namoro, pois preserva o conhecimento entre o casal.
Não é respaldado em beijo ou sexo. Voltamos ao tempo em que nossos pais e avós
namoravam na sala com a presença da família toda”, reforça.
O molde de
relacionamento tem ganhado cada vez mais adeptos nas igrejas evangélicas do
país. O movimento “Eu Escolhi Esperar”, por exemplo, que prega a virgindade até
o matrimônio tem sido disseminado cada vez mais nas redes sociais e já ganhou
millhares de seguidores no Facebook e Twitter.
A adesão à corte, conforme o
pastor Heitor Henrique, é feito por casais, preferencialmente a partir de18 anos
e que têm o objetivo de casamento. “É muito maior que um movimento de
pró-sexualidade. É o resgate das veredas antigas”,
observa.
Precoce
A doutora em psicologia comunitária Maria
Auxiliadora de Oliveira avalia que a sociedade contemporânea deturpou o sexo ao
explorar a sensualidade. Segundo ela, está cada vez intenso o desenvolvimento
precoce da sexualidade, o que tem aumentado os casos de gravidez na
adolescência.
“A questão afetiva e familiar hoje está banalizada. São muitos
jovens e adolescentes começando uma vida sentimental sem estrutura. Sabemos que
cada coisa tem o seu tempo e priorizar isso ajuda a minimizar os problemas que
afetam a juventude”, frisou Maria Auxiliadora.
Frutos
Os frutos
de um relacionamento preservado na pureza sexual, são o que o casal Sandro Cruz,
de 28 anos, e Maria Aparecida de Assis da Cruz, de 29, garantem estar colhendo.
Com apenas três de meses de namoro, eles se casaram e optaram pela castidade até
subir ao altar.
Para Sandro foi a melhor opção que fez, após ter namoros fora
dos padrões da igreja que geraram problemas sentimentais. “Começamos a nos
conhecer e o sentimento foi aumentando. Percebi que já poderia me casar e fiz
tudo dentro que acreditei estar correto. Hoje percebo que valeu à pena porque
tenho um casamento recheado de respeito, confiança e carinho”, revela.
Maria
Aparecida, que tem uma filha de sete anos, disse que não teve dúvidas em se
preservar. Ela disse que foi difícil a caminhada, mas a vontade de encontrar o
verdadeiro amor falou mais alto. “A questão é dar valor às coisas que se perdem
no decorrer da relação. Nossa prioridade foi a amizade e a base do evangelho.
Hoje vejo o quanto essa escolha fez a diferença em minha vida”.
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